coisas do momento #23

Só ontem, depois da conversa com a S. me apercebi finalmente de que tinha acabado. Finalmente aceitei que os meus melhores amigos se estavam a desvanecer da minha vida. Afinal de que é que eu estava à espera? Que a distância nos fizesse melhor? Que ao fim de 10 anos juntos todos os dias, o facto de eu ter mudado não iria alterar nada? Estava tão enganada quando pensei que resistíamos a tudo. Agora, aceitei o facto de que a vida não espera por ninguém. A vida continua, com ou sem eles. Pode não ser mais fácil, mas não pára para voltar atrás e tentar remediar a minha decisão. Ao ir para o colégio, deixei muito para trás. Deixei-os a eles. Eles, que sempre me apoiaram, que sempre suportaram as minhas decisões, eles que só queriam a minha felicidade, não estão comigo. Fui ingénua ao dizer que ia estar com eles muitas vezes, que tínhamos os números e os mails uns dos outros, que nada mudaria. Sim, ingénua, cega, crente. Tudo mudou. Já perdi o F. Com o P., bem, já nem me lembro de quando foi a última vez que estive com ele. Sei que a última vez que falamos foi no dia do meu aniversário. Antes disso, também as conversas foram quase inexistentes. Com a R. estou uma vez por semana. É aquela com que estou mais vezes e com a que mais falo. Não falamos todos os dias, nem dia sim, dia não, nem pouco mais ou menos. A magia das nossas relações, está a acabar. Simplesmente porque estou longe. Já não estou presente quando faço falta, quando precisam de mim, tal como eles já não estão presentes quando eu preciso deles para me limparem as lágrimas, para gritarem comigo, para me darem um estalo, para me fazerem abrir os olhos. Foi disso que eu mais precisei nestas últimas semanas. Precisei que a R. me limpasse as lágrimas, que o F. me desse um estalo e que o P. tivesse uma conversa séria comigo. Ontem, a S. disse "Sabes, pensei que soubesses que isso ia acontecer com o F. Conheces-lo à mais tempo que eu, sabes bem como ele é.". Sim, conheço-o à 10 anos, era como um irmão para mim. Era o melhor amigo mais antigo, que resistiu ao tempo e a tudo aquilo que passamos e foi o primeiro que perdi. Um atrás de outro, os amigos mais antigos estão a desaparecer. A dizer-me "Porque raio é que saíste? Condenaste nos!" . Todos sabem porque saí. Não foi só por causa do curso. Precisava de me afastar, de mudar, de ter outra visão do mundo. Precisava de ver até onde as relações eram verdadeiras. E agora, que já lá não estou, as coisas são mais claras. Percebi o interesse de algumas amizades, percebi o quão falsas eram. Tenho pessoas que considerava importantes que me viram a cara, que fazem de conta que nunca me conheceram. Tenho pessoas que me insultam, que fazem de mim a pior pessoa do mundo. Tenho ainda aqueles, que sorriem quando me vêem, mas que apenas sabem falar mal de mim. Tenho aqueles com quem convivi durante todo o tempo e que agora, bem, agora, agora mandam bocas, insultos, não respeitam as pessoas que conheci quando os deixei. Que passam e dizem "Vai para o teu colégiozinho, saíste daqui para ir para o meio deles! Vai! Não voltes!". São esses que me fazem ver que andei iludida. Pensei que muitas amizades eram para a vida, que iam resistir a tudo. O prazo de validade dessas amizades acabou. Para quê tentar que coisas impossíveis resultem? Não dá. Os melhores amigos foram. Sem despedidas, sem lágrimas entre abraços, sem dizer "Até qualquer dia". Simplesmente acabou. E dói saber que eles não voltam. Porque não, eles não vão voltar ...