Uma verdade que doi

Não sei lidar com a dor da perda de uma pessoa. Já se passou um mês. Continuo a sentir a sua falta como no dia em que a vi deitada sobre o tecido claro que forrava o interior do caixão aberto na capela mortuária.

Não é que lidasse com ela todos os dias, mas caramba, fazia parte da minha vida, da minha personalidade e da minha história.

Sou uma merdas, uma lamechas, uma agarrada ao passado e a coisas que não fazem o mínimo sentido. Eu sei disso.

Aguentei muita coisa quando o meu pai teve o acidente. Foram 15 dias de incertezas e esperanças que aquele coma acabasse. Foram 15 dias de desespero. Perdi momentos indispensáveis da infância por causa disso. As minhas notas cairam a pique, afastava tudo e todos. É o medo e aquele tempo perdido que faz com que tenha as atitudes tão infantis que tenho hoje. Tenho atitudes infantis, admito e sei muito bem disso. Na minha nova turma ninguém compreende, todos me acham uma criança mimada, que coitada, não regula bem. A minha necessidade de mostrar felicidade, de tentar ajudar quem está mal esconde aquilo que verdadeiramente sinto.

Esconde a dor, o medo, a vontade de chorar e o mau estar comigo própria.

Na verdade, acho que não quero que saibam. Acho que se ninguém souber de nada, tudo continua igual. Não quero penas, palavras de conforto nem olhares enternecidos por ter tido uma infância difícil. É verdade que quase perdia o meu pai, que perdi um amigo num acidente de carro e um primo que se pôs debaixo de um comboio.

Tenho amigos que andam na droga, tenho familiares com depressões e doenças que não lembram ao menino Jesus. Tenho uma família conflituosa do lado do pai. Agora morreu uma tia, amanhã pode ser outro familiar qualquer.

Não sei lidar com perdas, com doenças, com vícios em drogas. Nem com o meu passado consigo lidar. Lido com os julgamentos diários de pessoas que não sabem da missa a meio.

Lamento não ser um exemplo a seguir, lamento ter-me acontecido tanta coisa, mas cresci! As atitudes infantis são máscaras. Sim, só elas escondem a dor!